As celebrações de fim de ano estão sob a sombra de um sério risco de incêndio, tanto em espaços públicos quanto privados, devido a problemas com a validação dos extintores. O setor aponta para um desabastecimento generalizado dos equipamentos, causado pelas dificuldades das fabricantes em respeitar os prazos de recarga. A situação é especialmente alarmante na virada do ano, quando o uso de fogos de artifício, decorações elétricas e velas aumenta.
A origem do problema está na emissão de selos de conformidade, que agora são fornecidos pela Casa da Moeda em parceria com o Inmetro. Esses selos, que são exigidos também para cilindros de GNV e capacetes, fazem parte do projeto “Inmetro na Palma da Mão”, que visa facilitar a verificação da autenticidade dos produtos. Contudo, na prática, o sistema tem enfrentado falhas.
Empresários relataram que os números e sequências nos selos são quase invisíveis, comprometendo a rastreabilidade e a segurança dos usuários. Além disso, solicitações para novos selos estão represadas no Inmetro, devido à baixa confiabilidade do processo. Em Goiânia, algumas empresas que realizam a recarga de extintores já estão sem os selos disponíveis.
Até junho, a produção desses selos era feita por gráficas especializadas, mas com a nova portaria (314/2025), a responsabilidade foi transferida para a Casa da Moeda, que não tem conseguido fornecer um material que atenda aos padrões de qualidade exigidos pela legislação.
Os principais problemas incluem: uma redução de 2,5 cm no tamanho do selo, QR Codes que não trazem informações sobre a empresa responsável pela recarga, e códigos alfanuméricos desorganizados, dificultando a leitura.
A fragilidade do sistema foi evidenciada em um teste feito pelo consultor de segurança Adilson Medeiros Rocha, que mostrou que o selo impresso em papel comum ainda era legível, indicando vulnerabilidades a falsificações. “Se a intenção era aumentar a segurança, o resultado foi o inverso. É urgente que voltem ao sistema de numeração sequencial, que garante uma rastreabilidade eficaz”, afirmou.
Outro ponto crítico é o aumento no custo. Com a implementação do projeto “Inmetro na Palma da Mão”, o preço dos selos subiu mais de 200%, custando agora 3,4 vezes mais do que em maio. Esse aumento está relacionado ao uso de uma nova tinta de impressão fornecida exclusivamente pela empresa suíça Sicpa, que enfrenta processos judiciais em vários países, e que é utilizada pela Casa da Moeda.
As estatísticas reforçam a preocupação. Sobrecargas elétricas de decorações, velas esquecidas, extensões improvisadas e eventos realizados em locais sem condições adequadas de segurança são algumas das causas de incêndios durante o fim de ano.
No Brasil, os incêndios têm aumentado, com as residências sendo as mais afetadas. Dados da Abracopel indicam que, em 2024, dos 467 incêndios registrados, 213 ocorreram em moradias, resultando em 13 mortes. Neste ano, dos 632 incêndios, 302 aconteceram em residências, com 20 mortes. O principal motivo continua sendo sobrecargas e instalações inadequadas. Em comparação, nos Estados Unidos, a NFPA informa que cerca de 30% dos incêndios residenciais ocorrem entre dezembro e fevereiro, com aproximadamente 800 casos relacionados a decorações natalinas, resultando em prejuízos significativos e vidas perdidas.


